1 Introdução

As organizações possuem diversas formas e ferramentas de comunicação com seus públicos. As modalidades e o aparato instrumental a serem adotados dependem de uma série de fatores, como a natureza da instituição, sua missão e seus valores, além das particularidades de determinada ação comunicativa, como o objetivo pretendido, o público-alvo e os recursos disponíveis. Tomados em conjunto, esses processos e produtos integram o que se entende por comunicação organizacional, dentro da qual estão incluídas as comunicações institucional, mercadológica, interna e administrativa [ Kunsch, 2003 ].

Neste artigo, abordamos um componente específico desse composto — o jornalismo empresarial ou institucional —, tendo como objeto de estudo o Jornal UFG, produzido e publicado pela Universidade Federal de Goiás desde 2006. Realizamos um estudo de caso por meio de pesquisa documental [ Gil, 2010 ], a partir da análise de seis edições deste periódico, as quais marcaram sua implantação e reformulações ao longo de 16 anos de existência. Para isso, foram levadas em consideração características como formato, projeto gráfico, linha editorial e conteúdo jornalístico, articulando-as, quando possível, ao contexto histórico e institucional de cada período.

A análise ancora-se no referencial teórico da comunicação organizacional e estratégica [ Kunsch, 1992 , 2003 , 2009 ; Torquato, 2002 , 2009 ], do jornalismo a partir das instituições [ Lemos & Del Gáudio, 2009 ; Mafei, 2005 ; Rego, 1984 ; Sant’Anna, 2009 ], da comunicação pública [ Duarte, 2011 ; Koçouski, 2013 ] e da divulgação e do jornalismo científicos [ Bueno, 2010 ; Caldas, 2003 ; Sánchez Mora & Sánchez Mora, 2003 ]. Com isso, buscamos compreender se e como o Jornal UFG, desde sua criação até o momento presente, tem articulado as demandas institucionais à necessidade — e, sobretudo, ao dever — de socializar a produção acadêmica, científica e cultural da Universidade Federal de Goiás, dentro e fora da instituição.

2 De que jornalismo falamos?

Por conta de uma tradição acadêmica que teve como objeto de estudo prioritário a comunicação em empresas privadas, sobretudo com o processo de expansão da industrialização brasileira a partir da década de 1960, as práticas jornalísticas realizadas a partir das organizações costumam receber a denominação genérica de jornalismo empresarial. Em Torquato [ 2009 ], o termo é tomado como uma espécie de embrião do que viria a se consolidar posteriormente como a grande área da comunicação organizacional. Em Kunsch [ 2003 ], o jornalismo empresarial é relacionado como um dos instrumentos da comunicação institucional, que, por sua vez, é uma das modalidades que integram a comunicação organizacional.

Um dos produtos dessa área é o jornal da organização. Historicamente, e com base em um conceito alargado de jornalismo, há autores que observam elementos desse modelo nas cartas circulares da dinastia Han, da China, em 202 a.C., e na Acta Diurna, veículo informativo do Fórum Romano, em 69 a.C. [ Ferraretto & Ferraretto, 2009 ; Mafei, 2005 ]. Entretanto, é com a Revolução Industrial, a partir do século XVIII, que esse tipo de publicação ganha contornos mais sólidos. A divisão do trabalho e a segmentação das indústrias em estruturas separadas levam à necessidade de criar meios de comunicação que diminuíssem a distância entre os departamentos gerenciais e operários. Esses veículos também surgiram por uma reação dos empregadores às publicações originadas entre os trabalhadores [ Rego, 1984 ].

No Brasil, os primeiros registros de publicações empresariais datam do início do século XX. Alguns exemplos são o Boletim Light, criado em 1925 pela companhia de energia elétrica Light, e a revista General Motors, lançada pela empresa automobilística em 1926 [Mafei, 2005 ]. Durante muito tempo, esses veículos receberam o nome de house organ , ou seja, uma publicação da casa, interna. Entretanto, a expansão e a profissionalização da área de comunicação nas organizações consolidaram esse tipo de publicação como um importante instrumento, culminando na fundação, em 1967, da Associação Brasileira de Jornais e Revistas Empresariais (hoje Associação Brasileira de Comunicação Empresarial — Aberje).

Lemos e Del Gáudio [ 2009 ] elencam as seguintes características do jornal enquanto publicação empresarial:

Em geral tem periodicidade mais estendida que o informativo, funcionando como uma síntese dos acontecimentos na organização em determinado período, com um foco mais de alinhamento estratégico que informativo. Exige maior elaboração dos textos e da apresentação gráfica. Pode trabalhar com uma variedade de gêneros jornalísticos, como reportagem, entrevista e artigos, além de fotografia e ilustração. Tem custo mais alto, por demandar impressão de qualidade e distribuição física. É frequentemente utilizado para atingir públicos como a família do empregado ou formadores de opinião, sendo publicado mensal ou bimestralmente. [Lemos & Del Gáudio, 2009 , p. 289]

Embora esse histórico e caracterização remetam à natureza do nosso objeto de estudo — o Jornal UFG —, causa certa estranheza classificá-lo como um jornal empresarial. Isso porque, evidentemente, não se trata de uma publicação feita por uma empresa, mas por uma autarquia que integra a administração pública indireta do governo federal brasileiro. Nesse sentido, em um primeiro momento parece ser mais adequado conceituá-lo como mídia das fontes, 1 como proposto por Sant’Anna [ 2009 ], ou mesmo na definição mais genérica de jornal institucional, como adotado por autores ao analisar jornais produzidos por instituições públicas [ Cruz, 2007 ; Cunha & Santos, 2020 ].

Entretanto, pelas características que particularizam uma universidade, sobretudo pública, talvez seja ainda mais apropriado definir o Jornal UFG como um jornal institucional universitário, 2 aproximando-o, assim, de iniciativas semelhantes, como o Jornal da USP, 3 o Jornal da Unicamp, 4 o Jornal Beira do Rio 5 e o Jornal da Universidade, 6 entre outros. Essa delimitação abre espaço para dimensões comunicacionais imprescindíveis e que deveriam ser indissociáveis de uma instituição pública de ensino superior, como a comunicação pública e a divulgação científica.

A comunicação pública diz respeito à viabilização do direito social — individual e coletivo — à informação, à expressão, ao diálogo e à participação [ Duarte, 2011 ]. Como estratégia ou ação comunicativa, ela se dá quando o olhar é direcionado ao interesse público, com o objetivo de promover a cidadania e mobilizar o debate de questões afetas à coletividade [ Koçouski, 2013 ].

Já a divulgação científica é a utilização de recursos, técnicas, processos e produtos — entre eles, o jornalismo científico — para comunicar o conhecimento científico e tecnológico a diferentes públicos [ Bueno, 2010 ; Sánchez Mora & Sánchez Mora, 2003 ; Kunsch, 1992 ]. Bueno [ 2010 ] aponta o perfil do público como uma diferença fundamental entre a divulgação científica e a comunicação feita entre os próprios cientistas. Seu público de interesse não tem, obrigatoriamente, formação técnico-científica e, por isso, possui limitações na decodificação de jargões e conceitos especializados. “Em função disso, a difusão de informações científicas e tecnológicas para este público obrigatoriamente requer decodificação ou recodificação do discurso especializado, com a utilização de recursos (metáforas, ilustrações ou infográficos, etc.) que podem penalizar a precisão das informações” [Bueno, 2010 , p. 3].

A ideia de reconstrução discursiva também está presente no conceito de Sánchez Mora e Sánchez Mora [ 2003 , p. 9], para quem o objetivo da divulgação científica é “[…] comunicar, por meio de uma variedade de meios, o conhecimento científico a diferentes públicos voluntários, recriando fielmente esse conhecimento e contextualizando-o para torná-lo acessível” [tradução nossa].

O jornalismo científico, por sua vez, é um caso particular de divulgação científica [ Bueno, 1985 ; C. Medeiros, 2018 ]. Nesse sentido, tendo como base os princípios da atividade jornalística em geral, Bueno [ 1985 ] adapta a definição de jornalismo proposta por José Marques de Melo [ 1983 ] para conceituar o jornalismo científico como

[…] um processo social que se articula a partir da relação (periódica/oportuna) entre organizações formais (editoras/emissoras) e coletividade (públicos/receptores) através de canais de difusão (jornal/revista/rádio/televisão/cinema) que asseguram a transmissão de informações (atuais) de natureza científica e tecnológica em função de interesses e expectativas (universos culturais ou ideológicos). [Bueno, 1985 , adaptado de Marques de Melo, 1983]

Com a definição desta base histórica e teórica, passamos à descrição dos procedimentos metodológicos empregados para a análise do Jornal UFG.

3 Metodologia

Esta pesquisa se caracteriza como um estudo de caso — procedimento metodológico adotado quando se pretende ampliar o conhecimento sobre um objeto específico [ Gil, 2010 ]. O estudo de caso pode se valer de variadas técnicas de coleta e análise de dados. Na presente pesquisa, tendo em vista o objetivo de observar a trajetória do Jornal UFG desde a sua criação até os dias atuais, procedemos a uma seleção amostral que nos permitisse analisar as edições que marcaram o lançamento e as reformulações do periódico ao longo do tempo. A pesquisa documental no arquivo do periódico 7 nos levou às seguintes edições: número 1 (junho de 2006) — lançamento; número 16 (março de 2008) — primeira reformulação gráfica e editorial; número 36 (maio de 2010) — surgimento da versão on-line ; número 72 (maio de 2015) — segunda reformulação gráfica e editorial; número 95 (maio de 2018) — suspensão da versão impressa; e o conjunto de matérias na home principal em maio de 2020 — novo portal do Jornal UFG.

É importante esclarecer que o Jornal UFG deixou de ser contabilizado em números após a edição 99, quando migrou para um novo portal na internet e passou a publicar matérias em fluxo contínuo. Portanto, para garantir o paralelismo com os demais períodos, a coleta das matérias do último recorte temporal foi feita com a ferramenta WayBack Machine, 8 que arquiva páginas da internet da forma como elas estavam disponíveis em determinado dia [ Santos, 2015 ]. Com ela, encontramos 13 arquivos do Jornal UFG relativos ao ano de 2020. Selecionamos o arquivo do dia 11 de maio — a primeira data disponível depois da declaração de pandemia de COVID-19 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), no dia 11 de março daquele ano. Adotamos esse critério por considerar a crise sanitária como uma importante variável a ser levada em consideração neste recorte específico.

A análise qualitativa levou em consideração características como formato, projeto gráfico, linha editorial e conteúdo jornalístico. Quando possível, buscamos articular esses aspectos ao contexto histórico e institucional de cada período. Em relação ao conteúdo, também realizamos uma análise quantitativa complementar, para verificar como os diferentes assuntos estiveram presentes naquelas edições. A unidade de análise foi o texto jornalístico em seus diversos formatos — notícia, reportagem, entrevista, artigo e coluna [ Marques de Melo & de Assis, 2016 ]. A cada um dos 125 textos das edições selecionadas foi atribuído um único assunto, de acordo com o foco central da matéria:

  1. Institucional: matérias relacionadas à vida institucional da universidade, com foco em atos do corpo dirigente, atividades administrativas, programas institucionais, relações interinstitucionais, inaugurações de obras e criação de cursos.

  2. Divulgação Científica: matérias cujo foco principal são as pesquisas científicas realizadas na universidade ou que se propõem a discutir a ciência e seus processos.

  3. Extensão: matérias destinadas a divulgar projetos de extensão da universidade. 9

  4. Serviço: textos e colunas destinados a prestar algum tipo de serviço ou informação, como datas de eventos, inscrição em atividades diversas, serviços disponíveis para a comunidade acadêmica e procedimentos da rotina administrativa.

  5. Opinião: editoriais e artigos com a apresentação do ponto de vista de seu autor, com comentários, avaliações e análises de um ou mais assuntos.

  6. Sociedade e Comportamento: matérias que abordam temas que permeiam as discussões sociais e comportamentais, com reflexões sobre o momento histórico, social e/ou político.

  7. Arte, Cultura e Esporte: textos relacionados à produção e às atividades artísticas, culturais e esportivas da/na universidade.

Vale ressaltar que, embora o levantamento quantitativo tenha ficado restrito às 125 matérias publicadas nas seis edições, a análise qualitativa também levou em consideração a consulta e a leitura de outras edições publicadas nos períodos selecionados, para que pudéssemos melhor identificar e avaliar os diversos elementos gráficos, editoriais e de conteúdo. Dessa forma, foi possível caracterizar com mais assertividade cada fase do Jornal UFG, como será apresentado a seguir.

4 Jornal UFG: concepção, consolidação e desafios

A Universidade Federal de Goiás foi criada no dia 14 de dezembro de 1960, passando a reunir sob a mesma administração as cinco escolas superiores que existiam na capital, Goiânia: a Escola de Engenharia, o Conservatório de Música e as Faculdades de Direito, de Medicina e de Farmácia e Odontologia [ UFG, s.d. ]. Atualmente, a UFG é a maior instituição de ensino superior do Centro-Oeste brasileiro. Possui 22 mil estudantes em 146 cursos de graduação distribuídos em duas regionais, 10 uma na capital e outra na Cidade de Goiás, e oferece diversos cursos de especialização, mestrado e doutorado. A universidade possui uma Secretaria de Comunicação (Secom) com três diretorias — Jornalismo, Relações Públicas e Publicidade Institucional. Entre as atividades da Secom está a produção do Jornal UFG.

4.1 Lançamento

O Jornal UFG foi criado como um veículo impresso em 2006, sendo sua primeira edição lançada em junho daquele ano. O projeto ia ao encontro da reestruturação do setor de comunicação da universidade, que passava a contar com uma Assessoria de Comunicação (Ascom) que pela primeira vez buscava integrar as incipientes estruturas de jornalismo, relações públicas e publicidade. Era também um momento de expansão da universidade, com a abertura de cursos no interior de Goiás, nos então campi de Catalão e Jataí — tema da primeira matéria de capa do jornal. O veículo refletia, portanto, um período de efervescência no ensino superior público brasileiro, que viria a ter um impulso ainda maior no ano seguinte, com o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), sob a coordenação do então ministro da Educação, Fernando Haddad.

O editorial da primeira edição do Jornal UFG aborda a distância entre a universidade e a sociedade, apontando para o jornalismo com um possível elo. O texto elenca como principais problemas “a falta de divulgação aprofundada das pesquisas acadêmicas” e o “uso de uma linguagem hermética” [ Jornal UFG, 2006 , p. 2]. O interesse pela divulgação científica também aparece no artigo do reitor à época, Edward Madureira Brasil.

Estamos convictos de que este veículo só será perene se realmente se firmar como espaço democrático de comunicação a serviço do ensino, da pesquisa, da extensão e da cultura; se abrir canais eficientes de divulgação científica; se garantir oportunidades de expressão aos vários segmentos da comunidade universitária; se se consolidar, efetivamente, como uma ferramenta de difusão de conhecimentos e informações, comprometido com a inclusão social e cultural. [ Brasil, 2006 , p. 2]

Apesar da proposta de divulgação científica, as primeiras edições mesclavam um outro papel não tão delineado no editorial, mas em sintonia com o papel de uma assessoria de comunicação. O Jornal UFG apresentava grande quantidade de matérias factuais e de serviço sobre atividades do cotidiano da universidade, como eventos, novos cursos de graduação, lançamento de livros, mudança na cobrança de taxas, convênios e ampliação do quadro de servidores. Essas temáticas, mais alinhadas à notícia institucional [ Monteiro, 2009 ], foram o foco de mais da metade (51,2%) das matérias da primeira edição. A divulgação científica apareceu apenas na reportagem Observatório Geográfico: fonte de informação científica e debate [ Lima, 2006 ], que ocupou duas páginas do jornal.

Em toda a sua existência como impresso, o jornal teria entre 12 e 16 páginas e cerca de dez edições anuais. A tiragem começou em 11 mil exemplares e foi diminuindo ao longo do tempo. A impressão, no início em preto e branco e depois colorida, era de responsabilidade do Centro Editorial e Gráfico (Cegraf) da UFG. Internamente, a distribuição era feita em órgãos administrativos e unidades acadêmicas. Servidores ativos e inativos também o recebiam em casa, pelos Correios. Externamente, o jornal era enviado para autoridades públicas e para as Secretarias Municipal e Estadual de Educação, que o encaminhavam às escolas públicas.

4.2 Primeira reformulação gráfica e editorial

Em março de 2008, o Jornal UFG implantou a editoria Mesa-Redonda, que permaneceria até o fim da edição impressa, e a seção Memória, como forma de preparação para os 50 anos da instituição, dois anos depois. Nesse sentido, a reformulação editorial sugeria um avanço em duas direções: primeiro, por meio do aprofundamento analítico em forma de debate, inicialmente de temas acadêmicos e posteriormente de assuntos que permeavam a sociedade; segundo, com a tentativa de inserir a comunidade universitária no jornal.

Queremos mais reportagens de caráter histórico, aprofundando o debate sobre grandes questões do mundo acadêmico e registrando atos e fatos que se cristalizam na memória da universidade. Em suma, nosso objetivo maior é divulgar a produção acadêmico-científica e cultural da UFG, com linha editorial focada no jornalismo científico, institucional e cidadão. [ M. Medeiros, 2008 , p. 2]

Nesse período, também ocorreu a primeira reformulação gráfica. A maior mudança foi na primeira página, que se transformou em uma capa com o assunto de destaque da edição, em estilo mais próximo do magazine [ De Moraes, 2018 ]. O editorial do número 16 explica que as reformulações tinham por objetivo deixar o jornal mais arejado do ponto de vista gráfico e mais consistente em seu conteúdo informativo. Embora o texto reforce que seria dedicado “mais espaço ao jornalismo científico e menos às matérias meramente factuais” [M. Medeiros, 2008 , p. 2], na prática é possível observar nesta edição o predomínio das matérias institucionais (40%). No entanto, a proporção do conteúdo de divulgação científica (20%) foi maior que na primeira edição, inclusive com a coluna Curiosidades Científicas . Na época também foi lançado um novo Portal UFG na internet, que viria a permitir uma melhor divisão de conteúdo.

4.3 Surgimento da versão on-line

Até 2010, o Jornal UFG estava na internet apenas por meio da publicação, no Portal UFG, dos arquivos das edições impressas em formato pdf . Em maio daquele ano, teve início a produção de um website específico para o veículo, com a proposta de complementar e ampliar o conteúdo da versão impressa. O Jornal UFG on-line possuía duas seções exclusivas: Twittadas , com um resumo do que foi destaque no Twitter da instituição — um canal de comunicação recente criado pela Ascom; e Como Assim? , com curiosidades científicas e espaço para perguntas aos pesquisadores e professores.

No editorial do número 36, o discurso é de modernização e de atenção às tendências da imprensa de uma forma geral. “O jornal on-line confere agilidade e interatividade ao jornal impresso sem que este tenha de abrir mão de sua profundidade” [ Jornal UFG, 2010 , p. 2]. Ainda assim, nesta edição o predomínio era de matérias institucionais (33,3%), embora a patamares menores que os das edições analisadas nos dois períodos anteriores. O conhecimento científico produzido na universidade foi abordado na reportagem de duas páginas Hospital das Clínicas é referência no tratamento de anemia falciforme [ Queiroz, 2010 ] e na notícia Pesquisadores de Catalão produzem inseticidas com plantas do Cerrado [ Rodrigues & Limírio, 2010 ].

Este período é caracterizado por uma diversificação no conteúdo. Na edição de maio de 2010, três notícias abordaram projetos de extensão da UFG — projeto de orientação a agricultores familiares, preparação para a Olimpíada Brasileira de Informática e um café filosófico aberto à comunidade. Outras três matérias se propuseram a aprofundar o debate de temas inseridos na sociedade, incluindo a mesa-redonda Exploração ou colaboração: o que mudou nas relações de trabalho? [ Bringel, Stecca, Guimarães & Veiga, 2010 ].

4.4 Segunda reformulação gráfica e editorial

Em 2015, o Jornal UFG passou por uma nova mudança gráfica, com o objetivo de conferir-lhe “sofisticação”, “leveza” e “fluidez”. Essas são algumas das palavras que aparecem na matéria De cara nova , da edição de maio de 2015, que destaca as principais mudanças.

‘A tentativa é modernizar a aparência do jornal. Isso também vai interferir no aspecto editorial: a maneira de escrever passa a ser mais dinâmica, com a articulação de elementos visuais que auxiliem no entendimento do texto, como gráficos, infográficos e ilustrações’, explica o designer gráfico do Jornal UFG, Reuben Lago, que também enxerga na reestruturação a possibilidade de tornar a leitura do jornal mais prazerosa. [ Veloso, 2015 , p. 5]

A reformulação ocorreu em meio a mudanças administrativas na Ascom, com a gestão do reitor Orlando Amaral, que havia tomado posse no ano anterior. Na mesma época, é criado o Projeto Visibilidade, em vigor até os dias atuais, com o objetivo de aumentar a presença da UFG na mídia com uma maior produção de sugestões de pauta enviadas aos veículos de comunicação [ Neves, Basile & Stasiak, 2017 ]. O projeto também reestruturou as rotinas de comunicação no âmbito de um planejamento estratégico, prevendo ainda monitoramento dos resultados alcançados com os envios de releases e avaliação contínua [ Stasiak, Basile & Mendonça, 2015 ; Stasiak, Basile, Neves, Godoy & Oliveira, 2017 ].

Com isso, a produção de conteúdos voltados à divulgação científica aumentou de uma forma geral, passando a representar grande parte do trabalho da Ascom. A divisão de conteúdo também ficou mais clara, com a publicação de notícias institucionais exclusivamente no Portal UFG. Surgiram ainda tentativas de produção de material com maior envolvimento da comunidade acadêmica e de utilização de conteúdos produzidos pelos leitores, como aqueles publicados no Instagram com a hashtag UFG. Ainda assim, em termos quantitativos, a edição 72 do Jornal UFG repete a proporção de assuntos verificada no período anterior.

4.5 Suspensão da edição impressa

As discussões sobre uma possível suspensão da versão impressa do Jornal UFG se intensificaram em 2018. O período era de restrição orçamentária nas instituições de ensino superior brasileiras, com reflexos em diversos setores. A tiragem já vinha diminuindo e, sem recurso para etiquetagem e embalagem, esse serviço era realizado internamente e de forma manual, o que mobilizava grande parte dos profissionais de comunicação por vários dias. Outro problema era a distribuição, feita pessoalmente por esses servidores nas dezenas de unidades acadêmicas, momento em que também se verificava que, em alguns locais, acumulavam-se exemplares das edições anteriores.

No período, a estrutura de comunicação da UFG também foi reformulada. Elevada ao status de secretaria, a agora Secom passou a ter uma chefia centralizada e subchefias de área (Jornalismo, Relações Públicas e Publicidade Institucional), momento em que também foi decidido o futuro do Jornal UFG. A partir da edição 95, de maio de 2018, as matérias eram publicadas apenas na página do jornal na internet, mas com a estrutura editorial da versão impressa. O compromisso, neste período de transição, era desenvolver um novo site e manter a versão impressa para edições especiais.

Nesse cenário de prós e contras, optamos pelo caminho da prudência e da convergência. A palavra de ordem, portanto, é criar formatos complementares, permitindo a subsistência de tradição e inovação. Assim, o Jornal UFG migrará para uma plataforma digital mais robusta, mais interativa e com modernos recursos de navegabilidade, usabilidade e funcionalidades, dentro de um layout e um design inovadores. [ M. Medeiros, 2018 ]

Este período de transição foi marcado por edições on-line extremamente enxutas, com no máximo 12 textos. Das 11 matérias da edição 95, três tinham como foco a divulgação científica, incluindo a coluna Eu Faço a UFG , que trazia relatos em primeira pessoa sobre a trajetória de pesquisadores da universidade. Uma única matéria abordou um programa institucional, relacionada a programas de inclusão da universidade. Das edições da amostra aqui analisada, esta foi a primeira em que a matéria de capa não foi sobre um tema institucional. A reportagem Direitos Humanos: a quem defendem? [ Brandão & Rocha, 2018 ], aqui categorizada como Sociedade e Comportamento, abordou o conceito de direitos humanos, na esteira do assassinato da vereadora Marielle Franco, em março de 2018.

Em relação à linha editorial, o processo de desenvolvimento do novo site foi pautado pela consolidação do Jornal UFG como um veículo essencialmente de divulgação científica. Essa proposta também caminhava lado a lado à reformulação do site principal da universidade — o Portal UFG —, destinado exclusivamente à comunicação institucional e administrativa, de modo a direcionar ao Jornal UFG os assuntos relacionados ao conhecimento científico e às atividades de pesquisa, extensão e cultura.

Em dezembro de 2018, o que seria a edição de número 100 do Jornal UFG já foi publicada no novo site. 11 As publicações passaram a ser de fluxo contínuo (encerrando, portanto, a contagem de edições), divididas nas seis editorias atuais: Ciências Naturais, Tecnologia, Saúde, Institucional, Humanidades, Arte e Cultura. A parte superior da página possui um carrossel de imagens com as matérias de destaque e periodicamente são produzidas grandes reportagens especiais, nas quais se busca parceria com a TV UFG e a Rádio Universitária para a concepção da pauta e a produção dos conteúdos. O site também disponibiliza espaço para colunas fixas e artigos de opinião, abertos à comunidade universitária.

4.6 Pandemia de COVID-19

O ano de 2020 foi marcado pelo súbito aumento do interesse do público por informações científicas devido à pandemia de COVID-19. Mesmo com as dificuldades impostas pela emergência sanitária, sobretudo com a necessidade de isolamento e trabalho remoto, o Jornal UFG manteve um ritmo vigoroso de produção de conteúdo jornalístico, alinhado à produção científica da universidade relacionada ao novo coronavírus e à presença da UFG na mídia, por meio de seus pesquisadores com expertise nas mais diferentes áreas [ Basile & Gomes, 2021 ]. O reflexo foi sentido no significativo aumento dos acessos ao site, em um indício de que o jornal estava alcançado um público mais amplo.

No dia 11 de maio de 2020, a home principal do site do Jornal UFG, resgatada pela ferramenta WayBack Machine, apresentava 19 matérias, sendo mais da metade (52,6%) sobre pesquisas científicas. Nelas, a COVID-19 foi abordada em diferentes aspectos, como diagnóstico, prevenção, desinformação, economia e educação. A temática institucional não esteve no foco central de nenhum texto. Diante do negacionismo ecoado nas redes sociais e a partir das próprias instâncias do executivo federal brasileiro, o jornal também atuou na defesa da ciência, o que pôde ser notado no aumento do envio de artigos de opinião sobre o tema. No conjunto de textos citado acima, cinco foram opinativos.

Além disso, por meio da coluna Bastidores da Ciência , foram apresentados os cientistas por trás de algumas das principais iniciativas da UFG no combate à pandemia. Embora ainda estejamos no período pandêmico, em 2022 o Jornal UFG experimenta um retorno da atenção regular ao seu conteúdo, ainda assim maior do que no início do lançamento do novo site.

A Tabela 1 sintetiza todas as fases destacadas na trajetória de 16 anos do Jornal UFG. Já a Figura 1 mostra a incidência de cada uma das sete temáticas nas edições analisadas. Para garantir a equivalência entre os períodos, utilizamos a frequência relativa desses assuntos (número de matérias sobre um determinado assunto dividido pelo número total de matérias da edição). Por fim, para facilitar a visualização, destacamos na Figura 2 a evolução da incidência de matérias apenas com os focos institucional e de divulgação científica.


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Tabela 1 : Síntese da trajetória do Jornal UFG.


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Figura 1 : Incidência dos assuntos em seis edições do Jornal UFG.


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Figura 2 : Incidência dos assuntos Institucional e Divulgação Científica em seis edições do Jornal UFG.

5 Reflexões sobre uma prática jornalística institucional

A partir da trajetória do Jornal UFG, percebe-se que, desde a sua primeira edição, a divulgação científica era um anseio de seus responsáveis. Nota-se, entretanto, uma visão reducionista da divulgação científica, expressa no primeiro editorial em frases como “usar o jornal para traduzir a informação científica” e para “[simplificar] a linguagem científica” [ Jornal UFG, 2006 , p. 2]. Embora a ideia de tradução da ciência seja, ainda hoje, uma prática corrente em diversas ações de divulgação científica, essa concepção difusionista encontra-se superada nos estudos da área [ Caldas, 2003 ; Lewenstein, 2003 ]. Como pontua Sánchez Mora [ 2003 , p. 7], “[…] não se trata de verter de uma língua para outra, mas de criar uma ponte entre o mundo da ciência e os outros mundos”.

Além disso, a análise aponta que, nos anos iniciais, a divulgação científica no Jornal UFG, em termos quantitativos, era mais um discurso que uma prática sustentada no decorrer das edições, muitas vezes eclipsada pela notícia institucional. As causas para esse fato suscitam investigações mais aprofundadas. Entretanto, em uma dimensão qualitativa, é preciso ressaltar, por exemplo, que embora o primeiro número do periódico tenha publicado apenas uma matéria com foco na divulgação científica, ela foi a maior reportagem da edição, ocupando duas páginas, com chamada de capa e ilustrada com nove fotos. Essa valorização em termos de destaque e profundidade parece ser a tônica da publicação em toda a sua existência.

Também desde os anos iniciais, observa-se o compromisso com a comunicação pública, como neste trecho do artigo do reitor da UFG na primeira edição: “[…] cremos que o Jornal UFG constitui um importante projeto político, acadêmico, científico e cultural para se garantir a socialização do conhecimento e a transparência dos atos administrativos” [ Brasil, 2006 , p. 2]. A análise revela que, com o tempo, essas duas dimensões passaram a ser abordadas de acordo com as suas particularidades, sobretudo com a divisão de conteúdo entre o Jornal UFG e o site principal da universidade, o Portal UFG.

Um outro aspecto a ser discutido é a configuração do jornal em relação ao seu público leitor. A partir principalmente dos editoriais, o Jornal UFG não se coloca como um veículo de comunicação interna, o que seria uma acepção limitante do jornal institucional. Sua distribuição para escolas públicas do estado de Goiás, quando na versão impressa, chega, em certa medida, a elevá-lo ao que a literatura considera um instrumento de educação não formal em ciências [ Sánchez Mora & Sánchez Mora, 2003 ]. Esse escopo ampliado também fica evidente no conjunto de suas matérias, sobretudo com a inclusão de seções para se discutir temas que permeiam a esfera pública para além dos espaços acadêmicos e com a migração para o mundo virtual, onde pode ser acessado por qualquer pessoa.

Nesse sentido, o Jornal UFG passa a se aproximar ainda mais dos princípios definidores da divulgação científica em relação ao público e ao discurso [ Bueno, 2010 ; Sánchez Mora & Sánchez Mora, 2003 ]. Em relação ao segundo aspecto, é notável como o jornal gradativamente abre espaço não apenas para os resultados das pesquisas desenvolvidas na universidade, mas para os processos e atores da própria ciência. Entre os exemplos estão as colunas Eu Faço a UFG , na edição de 2018, destinada a um relato pessoal do pesquisador; Integridade Acadêmica , no recorte de 2020, que abordava questões éticas no fazer científico; e Bastidores da Ciência , que apresentava os cientistas da UFG com pesquisas relacionadas à COVID-19.

O fato de esses assuntos serem abordados no formato de coluna também denota uma variação dos recursos jornalísticos destinados à ciência no Jornal UFG. Assim, a notícia e a reportagem deixam de ser os formatos preferenciais do jornalismo científico praticado neste periódico universitário, sendo complementado por modalidades textuais que permitem a reflexão e a opinião, como colunas e artigos [ Marques de Melo & de Assis, 2016 ]. No conjunto de matérias de 2020, por exemplo, dois dos quatro artigos estão inseridos no debate da comunicação pública da ciência: Ecologia, Epidemiologia e o valor da Ciência na pandemia da COVID-19 [ Diniz Filho, 2020 ] e O mundo redondo da universidade [ Zanolla, 2020 ].

Ainda no aspecto jornalístico, também se nota a busca pela incorporação de recursos gráficos que aprofundem e facilitem a compreensão das temáticas científicas. Isso fica evidente logo na primeira reformulação gráfica do Jornal UFG, em 2008. Na edição 16, a reportagem de duas páginas Universidade e Estado se unem pelo controle e erradicação da febre amarela [ Mergulhão, 2008 ] traz um infográfico com a explicação dos ciclos urbano e silvestre do vírus causador da doença. O conteúdo também amplia e contextualiza o assunto ao mencionar a importância da vacinação e abordar um projeto de educação ambiental para minimizar as interações negativas entre a comunidade acadêmica e os macacos-prego que vivem no bosque e matas próximas ao campus universitário. “Com essas informações, os pesquisadores poderão ‘negociar’ trocas de conhecimento com o público que passa pelo bosque, e oferecê-los novos elementos advindos da ciência” [Mergulhão, 2008 , p. 9].

Além disso, pensando na universidade como um espaço diferenciado — e privilegiado — de produção jornalística voltada para a ciência, vale mencionar o potencial de uma abordagem mais atenta dos projetos de extensão, que neste levantamento não estiveram presentes de forma consistente nas páginas do Jornal UFG. Ressalta-se que a acepção moderna da extensão universitária supera o modelo assistencialista (de simples prestação de serviço à comunidade) e a entende como comunicação de saberes, em uma via de mão dupla. “‘Mão dupla’, significa troca de saberes acadêmico e popular que tem por consequência não só a democratização do conhecimento acadêmico, mas, igualmente, uma produção científica, tecnológica e cultural enraizada na realidade” [ Gadotti, 2017 , p. 2].

Em relação ao contexto histórico e institucional, as mudanças verificadas nesse veículo de comunicação ao longo dos anos, em termos de formato, projeto gráfico, linha editorial e conteúdo jornalístico, parecem acompanhar o reconhecimento das próprias instâncias administrativas acerca da importância estratégica da comunicação organizacional e do consequente amadurecimento e profissionalização desse setor na universidade, ainda que frequentemente vítima da precarização do serviço público brasileiro de uma forma geral. Tudo isso até chegar aos dias atuais, em que a divulgação científica foi impulsionada diante de uma grave pandemia.

Um dos indícios desse reconhecimento está, por exemplo, na inclusão do Jornal UFG, como veículo oficial de divulgação institucional, na Política de Comunicação da universidade, aprovada em 2019 [ UFG, 2019 ]. Trata-se de um evidente avanço ao que foi verificado na pesquisa de Kunsch [ 1992 ], no início da década de 1990, em relação à falta de conscientização das universidades no que diz respeito à importância de possuir, em sua estrutura organizacional, um sistema planejado de comunicação, apto a difundir de forma eficaz a sua produção científica.

Diante do exposto, pode-se dizer que o Jornal UFG surgiu já distante do anacrônico “[…] ‘jornalzinho’ com feição de colunismo social, malfeito e saturado de elogios aos dirigentes empresariais” [ Torquato, 2009 , p. 8]. Ao contrário, ele sempre caminhou na direção de uma “perspectiva pública do jornalismo institucional” [ Sardinha & de Paiva, 2012 , p. 67], fato que o conforma, devido às particularidades de seu lócus de produção, no que nos parece mais adequado chamar de jornal institucional universitário. Por meio de sua evolução até chegar à sua configuração atual, seria correto considerar o Jornal UFG como um ator que democratiza a circulação da informação na sociedade, ampliando o leque de emissores, a abordagem editorial e a temática divulgada [ Sant’Anna, 2009 ].

6 Considerações finais

Investigar sistematicamente instrumentos, técnicas e experiências de comunicação organizacional é de extrema importância para compreender, dos pontos de vista teórico e prático, os processos comunicacionais em instituições de naturezas diversas e em diferentes contextos de tempo e espaço. Este artigo contribui para esses esforços ao analisar seis edições que marcaram a trajetória percorrida pelo jornal produzido e publicado pela Universidade Federal de Goiás, desde sua criação, em 2006, até os dias atuais.

Foi possível observar como o Jornal UFG surge em um momento de grandes mudanças no sistema público de ensino superior brasileiro (que seriam interrompidas em pouco tempo), ancorado nos princípios da divulgação científica e da comunicação pública. Isso ocorre ora mais discursivamente, ora de forma mais evidente em seu conteúdo jornalístico, buscando, em diferentes momentos, um equilíbrio ou uma maior delimitação entre o institucional e o científico. Além de levantar discussões sobre aparentes lacunas teóricas em relação ao jornalismo institucional, acreditamos que este artigo também aponta para o futuro, no sentido de incentivar mais pesquisas que tenham como objeto as publicações produzidas por instituições.

Em 16 anos de existência, o Jornal UFG sobreviveu — e sobrevive — à precarização e ao sucateamento das universidades públicas, adotando também uma postura vigilante aos ataques sofridos por essas instituições no Brasil. Também nesse sentido, agora em relação ao formato e à linha editorial, este estudo mostra a importância de os profissionais de comunicação das instituições públicas estarem sempre atentos às contingências e demandas sociais de acesso às informações e de produção jornalística científica especializada e de qualidade, sobretudo em contextos adversos, como tem sido a pandemia de COVID-19.

Nesse aspecto, reforçamos o coro de Muniz [ 2018 , p. 40] ao dizer que o jornalismo é “[…] o caminho por excelência para que a universidade não seja calada, escanteada e irrelevante para a sociedade”. Trata-se de uma outra forma de conceber o jornalismo “oficial”.

Não “oficial” no sentido de apenas publicar no papel ou nas telas (ou gravar em áudio e vídeo) aquilo que agrada seus “oficiais”, seus dirigentes acadêmicos, aquilo que é pré-aprovado, não incomoda e de preferência promove carreiras individuais em cargos diretivos — aquele enfadonho e conhecido show de vaidades, regado com muita bajulação e retratos ruins. O jornalismo oficial deve ser oficial porque consolida, enraíza, “constitucionaliza”, “oficializa” na Universidade um princípio simples mas potentíssimo: se a Universidade é a casa do conhecimento, da pesquisa, da dúvida metódica, da troca e também do embate (civil e respeitoso) de ideias, então sua comunicação por excelência é a jornalística, a que questiona, relativiza, contextualiza e põe às claras as diferenças de opinião, sem impedimentos ou interdições. [Muniz, 2018 , p. 41]

Sendo assim, livre das amarras comerciais que permeiam a imprensa tradicional, o Jornal UFG — e o jornalismo institucional universitário de uma forma geral — tem a oportunidade de se apresentar como uma alternativa a um jornalismo científico que busca sua audiência por meio da mera espetacularização da notícia.

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Autores

Luiz Felipe Fernandes Neves é doutorando em Ensino em Biociências e Saúde pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e jornalista da Secretaria de Comunicação da UFG.
E-mail: luiz.felipe@ufg.br .

Kharen Stecca é especializada em Comunicação Pública pela Universidade Gama Filho e jornalista da Secretaria de Comunicação da Universidade Federal de Goiás (UFG).
E-mail: kharen@ufg.br .

Silvana Coleta Santos Pereira é doutora em Educação pela Universidade Federal de Goiás (UFG), mestre em Educação Brasileira pela UFG e professora associada do curso de Jornalismo da Faculdade de Informação e Comunicação (FIC) da UFG.
E-mail: silvanacoleta@ufg.br .

Notas

1 Sant’Anna [ 2009 ] propõe o termo mídia das fontes aos veículos informativos ofertados por organizações profissionais, sociais e do poder público que tradicionalmente são vistas como fontes de informação. Entretanto, o autor atribui às mídias das fontes a intenção de interferir na esfera pública e, em certo sentido, concorrer com a informação da mídia tradicional, o que não parece estar no cerne do Jornal UFG.

2 Uma busca no Google com o termo jornal institucional universitário retorna apenas um resultado. O termo aparece uma única vez em uma dissertação de mestrado, cujo objeto de pesquisa foi, coincidentemente, o Jornal UFG [ Souza, 2015 ]. Sendo assim, acreditamos estarmos diante de um conceito ainda incipiente, que possivelmente aponta para uma lacuna teórica que pode ser melhor investigada futuramente.

3 https://jornal.usp.br/ .

4 https://www.unicamp.br/unicamp/ju .

5 Publicação da Universidade Federal do Pará (UFPA), https://www.beiradorio.ufpa.br/ .

6 Publicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), https://www.ufrgs.br/jornal/ .

7 https://jornal.ufg.br/p/2594-edicoes-anteriores .

8 https://archive.org/ .

9 A extensão “[…] é um processo interdisciplinar, educativo, cultural, científico, tecnológico, social e político que promove a interação entre a Universidade e outros setores da sociedade” [ UFG, 2020 , p. 1]. Na prática, a extensão é comumente entendida como as ações da universidade voltadas para a comunidade, como cursos, serviços, produtos, intervenções, orientações, eventos, entre outras. O próprio Jornal UFG, por exemplo, é um projeto de extensão da universidade.

10 Até 2018, a UFG também contava com regionais nas cidades de Catalão e Jataí, que se tornaram universidades federais independentes em março daquele ano.

11 https://jornal.ufg.br/ .